sábado, novembro 25, 2006

poesia do fundo da gaveta

A cidade dorme
eu penso,
acordado.
No que esta cidade
quer de mim
saber de mim
se estou vivo morto importa?
Só importa que eu faça meu trabalho de macaco sem pensar e que eu tenha esperança de que a vida vai melhorar para que eu não
____________________________________________ incomode a cidade.

quinta-feira, novembro 23, 2006

O Nada Fabuloso Destino de Frederico Douglas

Frederico era um velho que sempre foi ridicularizado por ter um nome.. ridicularizável.
Frederico Douglas do Monte Raso foi batizado num dia 27 de setembro de um ano não muito perto.
Cresceu com as pernas tortas e com os braços arcados, nao por defeitos, mas por comodidade.
Era o "caos" dos ataques de risos das belas moçoilas vestidas com panos de cortina e com cabelos moldados à anjos de igrejas.
Riam dele até as professoras do mais essenciais anos academicos, os primeiros.
Não constituiu familia, nem ao menos arriscou-se em dar umas safanadas nas putas que o atentavam zombateiras quando voltava do trabalho ainda jovem. Fazia o dignissimo trabalho de empacotar fumaça. Isso lhe rendeu olhos murchos e orelhas pretas de fuligem, pois os dedos preguiçosos nao alcançavam nos poucos banhos que tomava.
A mão direita era a sua fiel esposa. E como todo bom macho a traía frequentemente. Com a mão esquerda.
Sua casa era a extenção de suas inoperancias. Só quando queimou a última lâmpada do último abajur do último quarto foi que se deu conta que o chuveiro ja não estava mais la. Havia sido comido pela ferrugem, e como prêmio Nobel para a sua inteligencia, creditou a agua suja com que se banhava à ferrugem! Olhem! Quem diria, heim, Frederico Douglas, vc nos surpreendendo! Ah, seu espertinho!
Era Patético, sim, ele era patético. Se alguem há de ser patético nesse mundo de Deus, era Frederico Douglas.
Já na Muito tardia - para o resto do mundo - velhice de Frederico Douglas, ele ganhou outro grande prêmio Nobel, por mais uma contribuição para a humanidade. Descobriu que o botijão de gás era um recipiente. e não um bloco unico, como pedra. Minha nossa! Que fantástico!
Um dia o insuportavelmente chato, realmente desagradavel, Frederico Douglas lembrou-se que o seu último diálogo havia sido com o cobrador de um bonde, a caminho do seu dignissimo trabalho, há 12 anos.
Ficou ineditamente pensativo, e não queixou-se ao perceber que não podia mais falar. Desaprendera o porco portugues que um dia seus bons pais lhe ensinaram.
Morre, velho do diabo, que o mundo não precisa da sua incomodante presença, era o que pensavam os vizinhos desafortunados.
Até que um dia o nosso herói da mediocridade resolveu modificar toda a sua existência. E foi decidido, certeiro, a passos determinados. Parou em frente a pia. Lavou as mãos.

E cortou o cabelo.
E checou a sua idade - já esquecera.
Tinha incriveis 62 anos. Metade do que lhe atribuiam.
Num surto de ousadia, abriu a janela emperrada de sua casa e com toda força que havia naqueles pobres pulmões, esbravejou:
" - Foda-se!"
Até uma lágrima de alivio lhe percorreu os sulcos da face.
Como o seu mundo é patético, Frederico Douglas.
Você e ele são espelhos. Um do outro.

terça-feira, novembro 07, 2006

casamento

Acordei ao sentir a diferença de temperatura entre o lençol ainda quente ao meu lado e o frio sob o travesseiro, e não tive dúvidas: ela estava na cozinha.
Meus pés rasparam o chão escuro do quarto, e entre as peças de roupas - que alias, foram retiradas de forma excepcionalmente excitantes na noite anterior- achei meus chinelos. Mas logo matei a idéia de calça-los, afim de não levantar vestigios de minha aproximação.
Saí com cuidado do quarto e fui à esquerda, em diração à cozinha, e lá estava ela.
Apoiei-me no portal e fiquei a admirá-la. Ela tocava os talheres de forma tão dilacada que esses ficavam soltos, e confortaveis nas suas mãos. Os seus dedos iam, certeiros que só, diretos ao ponto ideal do monte reluzantemente branco de açúcar. Seus pés bailavam, como se nela não houvesse mais que o peso da alegria cotidiana. E o seu vestido moldava as loucas curvas. O sol me foi aliado e me proporcionava a transparencia do tecido, mostrando - delicada e escancaradamente as formas tenras e saborosas do seu corpo. A cintura fazia com que os seios ficassem exatos nos movimentos de ida e vindas atraves do cômodo de chão xadrez da minha casa. Estava de costas para mim durante este tempo todo, me excitando e massageando o meu ego de forma com que sentira naquele momento um orgasmo continuo e meramente espiritual.
Escolhia as frutas e as colocava na bandeja de forma tão doce que era mais que as uvas, e mais que as cerejas.
Quando enfim termiou o café, se voltou pra o quarto e me viu.
Sorriu.
Sorriu como se toda a natureza e todo o universo se concentrasse naquele sorriso.
Deixou a bandeja de lado e correu os tres passos que nos separavam e abraçou-me um abraço que começou nos joelhos, percorria cochas, genitais, abdomens, tóraxes, e culminou em um suave e intenso beijo, após o qual só cabiam as melhores palavras do mundo:
"-Bom Dia, amor!"

sábado, novembro 04, 2006

Simplesmente Marina

És Maria, pois aceitas que a vida more em ti
És Natália, que quando chegam anjos de paz
Sabes que no simples do viver o mundo todo refazes
És Regina, em toda majestade exalada quando sorris.

És Leticia, pois alegria é o que a todos passas
És Joana, ao lutares com todo o mundo alheio
às belas ondas vida que nos afogam certeiras
És Pietra, que marcas em ti vencidas impossiveis batalhas

És Celeste na complexidade de teus belos azuis
És Florence na delicadeza de teus pifios atos
És Ana que remete ao belo da vida significado

És Amanda carente fonte de intenso amor
És em todo unica e plural, cor e forma, imagem e retina
És incomparavel, bela e forte, simplesmente Marina